Por: Artur Ricardo Siqueira
Na última terça-feira (21), o Ministro da Economia, Paulo Guedes, representou o Brasil no Fórum Econômico Mundial de Davos, evento que reúne as principais lideranças econômicas e grandes executivos. Entre os diversos debates, a frase de maior impacto do Ministro denota que “a pobreza é a maior inimiga do meio ambiente”. Em um contexto um pouco nebuloso, a mensagem do economista ainda não está clara, embora o assunto mereça uma análise mais cautelosa.
Os estudos sobre preservação ambiental e renda não são recentes e, mesmo assim, permanecem sem uma definição clara. Na década de 90, economistas desenvolveram um estudo que relacionava PIB per capita e a emissão de poluentes, a chamada Curva Ambiental de Kuznets. Apesar de bem complexo e muito questionado, o estudo revela uma correlação de que os índices de poluição, inicialmente, aumentariam drasticamente com a evolução da renda, e, logo em seguida, diminuiriam com a evolução gradativa da renda, o que resultaria um gráfico em forma de U invertido.
Por óbvio que países desenvolvidos e com renda mais elevada também apresentarão um nível de consciência ambiental e consumo mais responsável, além de uma demanda por produtos produzidos a partir de meios sustentáveis, de modo que os impactos negativos para o meio ambiente seriam mais brandos.
Por outro lado, quando focamos nos países em desenvolvimento, com índices econômicos e de desenvolvimento mais baixos, as questões ambientais possuem menor relevância. É natural que o poder público e o setor privado voltem-se, por exemplo, para assuntos mais elementares, como saneamento básico, estruturação da indústria, produção de alimentos com menor custo. Porém, é preciso cautela, pois isso não significa que pobreza gera, obrigatoriamente, um meio ambiente desequilibrado.
As principais fontes de degradação ambiental no Brasil – desmatamento ilegal, poluição atmosférica e da água, exploração irregular de madeira, entre outros – não possuem como fonte direta a parcela ou região mais pobre do País. A degradação da Amazônia, por exemplo, que sofre com a ocupação ilegal de terras e o desmatamento, é alvo de grandes grupos e produtores irresponsáveis, que aproveitam a falta de infraestrutura e fiscalização do Poder Público.
O discurso do Ministro vai em sentido contrário aos anseios do mercado internacional, que não vinculam os problemas ambientais à pobreza. Na verdade, a busca por um desenvolvimento econômico que respeite o meio ambiente é justamente o que os investidores internacionais buscam.
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